quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Desaprendendo

Hoje, ao abrir a página do G1, eu quase me arrependi de ter postado o vídeo anterior.

Pode ser considerado legítima defesa um homicídio que se consuma após 14 facadas?

O jogador de São Paulo, 30 anos, discutiu com a ex-mulher de 18 anos e, aterrorizado por ela ter pego uma faca na cozinha para ameaçá-lo, acaba por matá-la com 14 facadas.

Ele alega legítima defesa.

Se não fosse trágico, grave e preocupante, seria hilário.

Na mesma página, lê-se: adolescente de 13 anos é morta pelo namorado. Também esfaqueada com vários golpes. O namorado tinha 29 anos e aproveitou para esfaquear, também, a avó da namorada.

Choque cultural retroativo, acho.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Brasil ensina contra a violência



Adorei o vídeo promovido por uma associação para conscientizar sobre a violência contra a mulher. O velho continente tem muito que aprender sobre isso, até março deste ano já haviam morrido 20 mulheres na área de Madrid por violência "de la pareja". Em Portugal? bem, em portugal não sabemos, não há estatísticas.... mas há violência. E muita.

domingo, 20 de novembro de 2011

Conferências do Estoril 2011 - Mia Couto



Já agora, ouçam também o que nos diz o Mia, em seu irônico e sério discurso sobre as maiorias, as minorias e o medo... e sobre a violência também contra as mulheres.

O link eu descobri no blog da Inominável, mas está disponível no youtube.

Choque digital... ou, a casa

Socorro! Há semanas ando tentando entrar em casa. Perdi a chave... melhor, tinha perdido. Distração de quem teve muitas casas e deixou de usá-las. Mas a que dava acesso a esta janela eu já a tinha esquecido há tempos e foi uma cruzada recuperar e alterar a chave.

Feito! Agora, vou voltar a postar. Entretanto, deixo um texto que me apraz sobremaneira e reencontrei no antigo email. A chuva ainda cai e em abundância, mas já não é o hemisfério sul, nem verão, nem calor... mas resto eu e as sensações do que fui e do que sou. E a casa, já é outra. A retratada e a habitada.

22.12.2006

Finalmente choveu, um pouco. Cheguei em casa, o mesmo calor opressivo. Vim da Barra pela montanha, o Alto da Boavista. Pra nós, simplesmente, o Alto. Pedaços de ruas alagados, trânsito em princípio de caos. Cheguei em casa, quase ilesa. Tive de passar por uma enorme poça, daquelas que para ultrapassar temos de meter uma primeira, acelerar e só parar quando passada a água. Isso não deve dizer nada quem me lê neste hemisfério norte, não conhecem tempestades tropicais e menos, provavelmente, as conhecem no Rio.

O Rio que tem esse nome ironicamente porque um francês achou que a baía era o delta de um rio. Esse nome que cai tão bem diante da geografia da cidade, coberta por montanhas cujos cursos d'água vão todos dar bem no meio da zona habitável que, aliás, só se tornou habitável, graças à canalização de muitos deles e se torna deshabitável, cada vez que a natureza resolve que não há água suficiente entre mar e rios e batiza a cidade a cada início e fim de verão com muita água.

A música do Tom Jobim, "águas de março" fala disso. Ou deveria.

Tá se aprontando uma tempestade. Das boas. Com direito a céu cinza escuro, muito vento e do morro, com o Cristo já encoberto, só se distingue levemente o contorno que transmutou-se de verde em quase preto.

Queria poder deixar tudo aberto e receber a tempestade de frente, camiseta e pernas de fora, com a chuva e o vento na pele. Não posso. Parece que tudo ganha vida na casa e os objetos começam a se deslocar, as cortinas levam tudo com elas, é bonito de ver, mas não me apetece ter de sair em excursão pela casa a catar tudo que se espalhou. Deixo só a janela do meu quarto aberta. Não totalmente, mas já entra um vento que é uma benção no calor de hoje.

Tá chovendo. Algumas gotinhas ínfimas me atingem, onde estou, ainda com o laptop no colo. Os vidros estão todos salpicados, com as gotas reluzindo por causa das luzes. Anoitecendo. São 8h da noite.

Sensação deliciosa essa humidade. O vento e o barulho da chuva grossa batendo na vidraça.



PS: Tentei ajustar fontes e tamanhos, o editor do blog não deixa. Lamento o visual!


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Dúvidas


As imagens que tenho visto, esta semana, das forças rebeldes líbias a comemorar deixam-me com um sentimento estranho, de algo que não encaixa, de uma selvageria histérica e improdutiva.

Dúvida 1: Se são rebeldes, sem apoio da infraestrutura de estado, sem uniforme, ou outras marcas explícitas de organização, como estão sempre gastando munição caríssima apenas para comemorar?

Dúvida 2: Comemorar um país destruído, montes de civis mortos ou feridos para a vida, e uma incerteza total sobre o futuro do país, sobre a real autonomia que precisam construir?

Dúvida 3: Ao desaparecer o ditador , surge magicamente no seu lugar um país novo, moderno e uma população idem?

NB: Eu não acho que deveriam seguir com a velha ordem do déspota sumido. Mas vejo razões, sobretudo, para trabalharem e tentarem encontrar vias de estabelecer a reconstrução do país, e nenhum motivo para tanta comemoração, como se a partir de agora tudo fosse brotar do solo árido do deserto: trabalho, comida, estruturas, chefe de estado, país. Ou entao, qual a parte da história que eu não entendi?

Imagens, obviamente, retiradas da net através do Google.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Da realização dos desejos

Bem, eu bem queria voltar a ser aquela pesquisadora incansável, professora mais que dedicada, coordenadora atenta... bem, talvez só por uma semana, para me dedicar a todos os projetos que idealizei nas férias.

Bem, as férias, bem, as férias... estranho ser justamente nas férias em que me vem essa necessidade de ser a trabalhadora de antão... ou seria antanho... ou então, não seria... seja lá como for.

O fato é que Pemba é uma experiência existencial, assim como os Makua, os Makonde, o Georges e a Emmanuelle (abaixo, os dois dentro do Land Cruiser quarentão, principal meio de transporte),


a Susana, o El Pirata, o Saïd e todos os outros com nomes muçulmanos que nem com muito esforço eu consegui memorizar.

Mas ainda foram férias, com F maiúsculo. E, Mila e Olga, please, não soltem demais a imaginação nesse F... é F de férias, de fantástico, de fora de série, de fenomenal, de fiche oh pá, de feliz.

Os caranguejos também, é verdade. Aliás, inventamos a dança do siri moçambicano... eles devem ter respirado aliviados quando partimos, mas as tardes na beira mar nunca mais serão as mesmas, eles bem vão sentir saudade da nossa amistosa perseguição cheia de energia solar.

Aliás, Sonia vai adorar, a Flavinha vira e pergunta: Mas vocês ficavam o dia todo na praia, não faziam mais nada? Ao que eu respondo: é, na praia, até a hora do almoço, depois descansávamos na varanda,


junto com as formigas de um dos troncos que sustentava a casa, quando elas começavam a andar por cima de nós, voltávamos para a beira do mar, andar e ver se a maré estava vazando ou subindo, verifávamos se o mangal estava submerso ou à mostra, corríamos atrás dos caranguejos, sim, isso, uma das nossas atividades preferidas e, não, não havia lojas onde comprar nada, nem supermercado tem na cidade, só um mercado muito rústico, na porta das casas dos vendedores, além da cooperativa dos escultores de madeira.

A cara dela não dá para descrever, era como se eu estivesse falando do meu último passeio pelas crateras da lua, no rastro do Neil Armstrong.

Depois tinha o pôr de sol muito cedo, às 5h...

e, a seguir, a lua que ficou cheia cheia durante a semana e cor de laranja ao surgir no sábado. Jantar na ventania, que não parava de ventar, depois de 3 dias a gente já nem nota. E ir pra cama as 9h.

Sol na cara as 5h30, através do teto de macuti e da rede que cobria a cama na necessária e, às vezes, inglória, tarefa de afastar os insetos.

Abaixo, um dos caranguejos capturados num sequestro relâmpago e logo liberado por falta de caixas eletrônicos de onde obrigá-lo a sacar dinheiro. De toda forma, não acredito que fizéssemos muito com umas centenas de meticais, isso, se encontrássemos onde gastá-los.


A seguir, o Sebastian. Lembram do filme "A pequena sereia"? Pois é óbvio que eu não consegui pensar em outro nome para batizá-lo. Havia uma legião deles.



A lua e a dança do siri moçambicano vem na próxima. Já não consigo manter os olhos abertos.

domingo, 31 de julho de 2011

Desejos dos outros, alvoradas minhas


Hoje acordei ainda noite, fui levar os últimos visitantes a Barajas. Ao voltar, as luzes começavam a surgir. Ao chegar, a casa estranhamente silenciosa, sem previsão de novos ou conhecidos ruídos. Só promessa de silêncio e calor, na frescura da alvorada. Mais tarde o toque de despertar do quartel vizinho, familiar. O sono vindo. E os desejos, constantes. Busquei e só encontrei esse texto que não confio ser mesmo do Drumond, mas cujo conteúdo pode traduzir um pouco do que me apetece aqui deixar. Até a volta. A imagem é da minha janela.

DESEJOS

Desejo a vocês...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho.
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel...

... e olhos para poder registrar imagens como essa.

domingo, 12 de junho de 2011

Coisas para fazer antes de morrer

Ainda procurando sobre o tal filme cujo título me escapou, encontrei um blog, ou algo que o valha, com um post com seguinte título: 50 coisas para fazer antes de morrer. E o que os 50 itens tinham em comum era, precisamente, estarem ligados a experiências com um fundo de multiculturalismo, com um deslocamento da sua rotina para algo em direção ao outro, para uma outra realidade. Lendo, comecei a pensar o que, daquelas coisas eu já tinha feito e o que, dentre outras coisas que eu tinha feito, poderia fazer parte da lista. Assim, seguem algumas das coisas que eu já fiz e acho que muita gente gostaria de ter feito ou de ainda fazer antes de morrer. Não vou pôr as 50 de uma vez, que não há santo que aguente! E pode ser que o teor mude à medida que a lista for sendo feita. Uma das 50 coisas que eu não pretendo nunca até morrer é ser previsível e sempre a mesma.

1 - assistir a um festival de música - Rock'in Rio 1991, no Maracanã - Santana, Joe Coker, Lisa Stanfield, George Michael, Egenheiros do Hawai, Elba Ramalho. Paralelamente, assisti a um Superbock Superrock no HardClub no Porto, com Xutos e mais alguns, foi uma linda noite refletida no Douro. E também, Rui Veloso cantando com Toquinho no Canecão, Rio de Janeiro.



2 - visitar o lugar onde nasceu alguém que você acha que mudou o mundo - não se pode dizer que foram exatamente onde nasceram, mas onde viveram e trabalharam como VanGogh e Cézanne (Aix en Provence), não sei se mudaram o mundo em geral, mas mudaram o meu mundo, meu modo de encarar a beleza retratada numa tela e depois, de volta, a beleza natural que inspirou várias daquelas telas.



3 - visitar um lugar onde algum fato mudou a história da humanidade - Cabo da Boa Esperança, onde estão os padrões de Fernão Dias e de Vasco da Gama; Ponta de Sagres, que deu nome à Escola de Navegação pela qual os portugueses mudaram o mundo para sempre; Foz do Douro, de onde saiu o navio que levou meu pai e, em outro momento, minha mãe para se encontrarem e se apaixonarem no Rio de Janeiro, onde nasci. OK, foi a minha história, mas o meu quinhão de humanidade depende disso, convenhamos.





4 - participar de uma cerimônia ou ritual próprio de um povo e/ou religião que não a sua - na verdade, neste caso, eu comecei muito cedo. Aos 6 anos de idade fugi de casa e fui assistir a um culto de uma Assembléia de Deus que ficava a uns 100 mts da minha casa. Foi uma experiência muito curiosa e inesquecível, sozinha tentando entender os códigos e condutas que não me eram nada familiares. Depois, um terreiro de umbanda na periferia do Rio, sensação de transgressão e uma certa apreensão. A seguir, cerimônia de Shabat na Sinagoga de Lisboa, várias vezes, até criar intimidade e ser bem acolhida. Oferenda de comida e incenso em um templo zen-budista na zona oeste do Rio de Janeiro. Monges do Butão. Falta-me a mesquita, mas está na minha lista.

5 - mergulhar com as baleias... ai como eu queria!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Coisas para fazer em Madrid antes de... II



2 - Curso rápido(íssimo) de comida japa

Bem, já ouviram falar de Groupon? Coisa de desocupado(a)s que navegam mais tempo do que deveriam pela net. Depois de um certo tempo e de não sei quantos sites, começa-se a receber um mailing desse "projeto" que parece fazer um pool de compradores para mercadorias e serviços de empresas disponíveis. Aí, 29€ por 3 horas de aula por um sushiman em um restaurante japa de verdade não me pareceram nada mal.

Some-se a isso o preço exorbitante dos restaurantes japa nesta cidade que mais parecem nouvelle cuisine nipônica. Paga-se 8€ por 4 míseras pecinhas de maki, 5€ por 2 nigiri e por aí vai. Diante deste quadro desolador, resolvi que podia fazer diferneça aprender a preparar aquele arroz de rechear maki e a cortar o sashimi em condições. Além de saber como escolher molho, gengibre, peixe etc.

Foi melhor do que eu esperava e de quebra ainda aprendi umas coisinhas sobre cultura japa, muito legal. Recomendo o restaurante panasiático Asia Tei, fica na Ayala, bem pertinho da Velasquez, bairro de Salamanca e tem um staff muito simpático e eficiente.

Ccada aluno tinha o seu kit arrumadinho em um lugar específico da mesa em U e ainda nos serviam chá verde e água além dos ingredientes à descrição.

O primeiro nigiri a gente nunca esquece!

Pra isso - e para o sashimi - uma boa faca afiada japonesa é mais que indispensável! Esse era o assistente palpiteiro mais velho do sushiman. Mais parecia um antigo samurai e não largava esse facão.
No final, makis para comer e para levar, além dos palitinhos gentilmente oferecidos.... Agora só falta disposição, pois eu consegui enrolar tudo decentemente e ainda comprei a esteirinha de bambu, alga e faca para poder exercer meu ofício recém-aprendido.

Coisas para fazer em Madrid antes de...



Há um filme americano cujo o título eu achei que era "Coisas para fazer em Memphis antes de morrer". Do dito, não encontrei nem rastro na net. Como não tenho mais tempo para pesquisas e fui intimada a retirar as pataniscas, resolvi fazer o post mesmo assim. Que os seletos leitores completem como quiserem (ou puderem) a frase-título.

1 - Doce de morango com muito pouco açúcar.

No Carrefour, encontrei essa caixinha de 1kg da fruta e, acreditem, aproveitei todos os itens, nada estragado, pisado, amassado ou assim assim... igualzinho ao Brasil, não é meninas? E, tudo, pelo módico preço de 3€. Como nada é para sempre, resolvi preparar e congelar. Fica ótimo com sorvete de baunilha ou com a tarta de queso, que é um tipo muy sensillo de cheesecake encontrado em todos os restaurantes e no Liedl, que eu considero muito razoável como sobremesa semi-light.




Na impossibilidade de prosseguir, neste momento, pois tenho que entender como faço para ter um número de Seguridad Social, vou fazer uma série.... há mais... acreditem, e podem pegar o babador!


quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um presente, às vezes



É, nem sempre tudo é comprado ou vendido nesta vida. Meu africano favorito foi sem mim ao Porto, a trabalho e lá, no almoço da empresa, parece que havia umas pataniscas de matar. De matar a saborear, claro. Cheias, consistentes, com muito bacalhau e macias. Fim do acto.

De noite, no aeroporto, começa ele a fazer a descrição das ditas e que não comeu mais porque não podia, etc. E sai-me com esta: aí quando a A. veio me dizer que comesse mais, se estavam tão boas, eu disse que não podia, mas que tu ias adorar prová-las ao que ela respondeu que era pra já. A seguir, veio ela com uma caixinha, já em uma bolsinha, muito discreta.

Eu, incrédula, perguntei: Não me digas que tu trouxeste na mala de trabalho umas pataniscas. Aliás, não me digas que tu pediste, à directora de Recursos Humanos, uma "quentinha" do almoço do trabalho pra me trazer. E ele, com a maior naturalidade, pedi sim e a A. o fez toda contente.

Isso me lembra a propaganda já de anos do Mastercard: Bilhete Iberia Madrid-Porto-Madrid, 200€; estacionamento no aeroporto, 8€; manicure, 12€; marido que traz pataniscas dentro da mala de trabalho, NÃO TEM PREÇO!

Já agora, vai a foto, que não é das ditas, mas é parecidíssima e foi retirada daqui. Aliás, esse "aqui" é um blog que se chama, sugestivamente, Cozinhando com os anjos e que me pareceu encantandor.


PS: As pataniscas eram acompanhadas com aquele arroz de feijão molhadíssimo e quente, mas era complicado por na mala...

PS2: Em Madrid, o bacalhau seco e salgado é uma raridade, todo mundo já ouviu falar, mas poucos tiveram a experiência pessoal, ao vivo e a cores. Há uma semanas, em Tordesillas, pincei em uma ementa umas croquetas de bacalhau, certifiquei-me junto ao garçon de que se tratava de bacalhau seco e salgado, mas do dito, nem o sal!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Os deuses vendem quando dão



O DAS QUINAS
Os Deuses vendem quando dão.
Compra-se a glória com desgraça.
Ai dos felizes, porque são
Só o que passa!

Baste a quem baste o que Ihe basta
O bastante de Ihe bastar!
A vida é breve, a alma é vasta:
Ter é tardar.

Foi com desgraça e com vileza
Que Deus ao Christo definiu:
Assim o oppoz à Natureza
E Filho o ungiu.

Fernando Pessoa, em Mensagem

Vendem sim, sinto isto sempre que tenho que me mover entre meus afetos dispostos em tempo e espaço tão diferentes. Mas como "a vida é breve, a alma é vasta", passo a acreditar que quem tem razão é o brasileiro Vinícius de Moraes que me diz que seja eterno enquanto dure. Ou seja, que toda a felicidade seja assim e todos os momentos mágicos, mas só eles... não suportaria ter uma tristeza com sensação de eternidade.

Este choque também tem a ver com os diabólicos fusos horários de 5h entre Madrid, Rio e Novosibirsk. Desta última, o pôr de sol... 10 horas antes.


segunda-feira, 4 de abril de 2011

Da Rosa dos ventos

Como hoje é segunda e o fim de semana não me foi suficiente para recuperar a energia necessária para começar esta semana, fui buscar ânimo no quintal da Rosa, senhora dos ventos e, sobretudo, dos gatos. Quem resiste a um olhar como este, da sua gata Nina? A origem da foto e sua autoria estão aqui.

Saudade dos meus gatos!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Cultura? Civilizados? Quem?

Estava lendo no Jornal do Brasil - excelente jornal que, por razões econômicas teve que se manter em formato online, apenas - o Carlos Eduardo Novaes. Talvez só quem tem mais de quarenta e viveu no Rio de Janeiro seja capaz de se lembrar e entender como esse jornalista ajudou a elaborar o pensamento crítico (e o humor ácido) de algumas gerações. Voltando à minha leitura, encontrei um texto que ilustra um olhar crítico e muito realista sobre a intevenção militar na Líbia. Vejam só:

Uma pergunta que pinga tal uma goteira na minha cabeça foi repetida por um jornalista do inglês Independent: Quem vai para o trono quando Kadafi cair? A confusão que se estabeleceu na Líbia desde o primeiro momento vem da ausência de uma oposição minimamente organizada. Os líbios deviam imaginar que Kadafi fosse eterno porque nesses 42 anos de tirania não cuidaram de desenvolver um plano B para depor o ditador. Nessas circunstancias quando o treinador americano tirar Kadafi de campo e olhar para o banco não encontrará ninguém para seu lugar. Não sei se as forças da Coalizão já pensaram a respeito, mas desde já proponho que botem um anuncio no melhor jornal da Líbia: “Procura-se – cidadão líbio para governar o país. Exigimos tempo integral, inglês fluente e capacidade para organizar eleições democráticas. Oferecemos apoio militar e financeiro do Ocidente. Enviar currículo com pretensões salariais para coalizão@ bombardeio.com. un. Não é necessário experiência em petróleo.

Agradeço ao Novaes, cuja postagem pode ser lida na íntegra aqui, por ter definido em palavras um mal estar que deve estar acometendo não só a mim, mas a muita gente comum e leiga como eu.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Choque do bom

Eu juro que não vou fazer comparações, pensem o que quiserem, mas eu fiquei chocada hoje cedo.

Toda preparada para ir ao ginásio - sim, na urbanisación tem ginásio, é tudo, né? - ponho meu telemóvel como walkman, fiozinho no ouvido e apanho o elevador. Surpresa, pára no 3, coisa rara. Entra um casal e um menino gordinho, de uns 9 anos, ainda sonado, as 8h30 da manhã.

O pai, ao ver o elevador com alguma ocupação - eu - exclama com um sorriso: "Hola! Buenas!" e apressa o resto da família para entrarem. Cumprimento a esposa e o menino que, pasmem, também cumprimenta, tadinho, meia pestana aberta.

A esposa não se contém, diz: "Eres del quinto, correcto?" Confirmo e ela continua, quase em coro com o marido: "Somos del tercero E, dos pisos abajo del tuyo. Bienvenida!"...

Bem, felizmente eu estava sozinha, o Victor era capaz de ter um ataque do coração, eu quase fiquei apoplética, nem sabia o que responder ante tanta amabilidade gratuita. Consegui, a custo, esboçar um: "Muchas gracias, muy amable" e saí na planta baja, ainda atônita e feliz.

domingo, 20 de março de 2011

Enhorabuena


A Olga, como sempre antenada, enviou-me algo que sai do óbvio que tem inundado as páginas todas por onde andamos. Que seja en buena hora, para os nosso amigos do sol nascente.

Além de bonitos, os cartazes podem ser úteis. Veja aqui.

sábado, 19 de março de 2011

Pérolas II

Espanhóis têm horários esotéricos de funcionamento de empresas em geral.

A) Chego às 10h da manhã, terça-feira, cheia de dor no estômago, farmácia em frente de casa. Vou até a porta de vidro, papel colado. Horário de abertura: 12h-19h. A dor não melhorou, mas eu passei a ser a criatura mais agradecida desse mundo por ter um hotel na minha rua com uma cafeteria onde servem um ótimo café con leche.

B) Acabo de deixar o marido no aeroporto, domingo, 12h30, decido ir ao shopping resolver coisas e almoçar. Procuro no gps o shopping mais próximo, marco e vou pra lá. O estacionamento onde o gps me deixa está fechado, dou a volta para encontrar outra entrada, pelo caminho, observo que as portas de pedestres estão estranhamente fechadas. Próxima entrada de carros: fechada com grades. Desisto e volto para casa. No elevador, o meu vizinho de porta, sorridente, pergunta como estamos nos adaptando, eu digo que tenho alguma dificuldade para entender a lógica de abertura das tiendas. Ele ri e diz, "não há lógica", eu conto o caso das portas fechadas, reacção: "os shoppings não abrem aos domingos, exceto no primeiro de cada mes e em festivos"... ainda preciso de um manual para entender exatamente o que eles querem dizer com festivos.

C) Sábado de tarde, eu podia jurar que tinha visto uma peluqueria perto de casa. Fui até lá, nada, fechada. Volto no conserje, que é o porteiro, e pergunto se há alguma por perto. Ele me olha como se eu fosse um alien. Es sabado hoy, las peluquerias no funcionan, al mejor, sólo hasta medio día. Además, aqui, las cosas funcionan lunes a viernes, y viernes hasta la una. A esta hora, eram 14h então, están todos en el coche.

Bem, difícil descrever a minha cara de parva, até porque eu não me via.

Por outro lado, eles parecem estar sempre injetados de disposição (será pelas tapas e pelo vinho?), pois nunca se mostram entediados ou sem vontade de falar com você como os portugueses. Há sempre dois beijinhos ao cumprimentar, tratam todo mundo por tu (o que já te inclui no âmbito familiar), sempre querem saber se você está mesmo se adaptando, reparam que cortou o cabelo e interrompem uma sessão de esteira para te explicar como funciona o ginásio.

Alguém consegue encontrar similaridades com os seus vizinhos lisboetas? Não? Normal, não há mesmo! Ok, antes que cassem o meu passaporte, refiro-me aos vizinhos, não tenho nenhuma lembrança agradável dos meus vizinhos em Lisboa, ainda assim, foi com um aperto no coração que eu deixei aquela cidade deliciosa. E as pessoas que me atendiam, na farmácia, no mercado, na florista, na clínica e no banco perto de casa, têm um lugar muito afável nas minhas lembranças afetivas da cidade.

Mas vamos à vida que hoje é sábado, tem a super lua na janela, e eu aqui nesta cidade sem mar e sem rio... não há tapas que consigam aplacar o efeito de uma coisa dessas.

O rio, o sol e os sentidos







Acho que dá para entender a razão de não haver compensação possível para a falta que isso faz.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Pérolas... ou diria perlas? I

Hoje eu não estou feliz, há muita coisa triste acontecendo, em variadas latitudes e ando destilando fúteis preocupações para não pensar muito no futuro. Assim, aturem estas pérolas fresquinhas, recém tiradas da concha (?) espanhola...

Espanhóis fazem imenso barulho, por tudo e por nada, a maior parte das vezes, por nada.

A)É assim, ouve-se um falatório na calçada, vai-se à janela, há um espanhol jovem, empurrando um carrinho de compras, gesticulando e falando, aparentemente dirigindo-se a alguém que está à frente dele e não podemos ver. Atrás dele, surgem uma mulher jovem e uma criança, também falando, desta vez para o homem jovem. Finalmente, abre-se a "câmara", vem um cãozinho vira-latas subindo a rua na diagonal e arrastando uma trela vermelha. Adivinhem com quem o homem falava em alto e bom som com coro da mulher e do filho... esta última, vem logo atrás e apanha a trela do animal sorrindo. O que ele dizia? Não faço idéia, mas gesticulava e articulava com muito entusiasmo.

B) No mercado, uma família cheia de dúvidas sobre onde encontrar algo... como eles falam muito e sempre alto, claro que eu prestei atenção, além de mim, também, um homem alto e forte que se dirige à senhora, mesmo sem ter sido interpelado, e indica com precisão onde ela pode encontrar o tal produto. Caramba, eu quase caí pro lado, era empregado do mercado. Em Portugal, nem quando a gente pergunta eles explicam... em geral não sabem.

C) Dois funcionários do mercado (ok, podem dizer, a minha actividade de socialização favorita são os mercados!.. nem sempre foi assim, acreditem!), o homem, que parece ser o supervisor, aos berros explicando enfaticamente a uma mulher o que deveria fazer. Acho que ele estava sendo enfático demais, ela responde algo como "de la mierda" também aos berros e sai resmungando ao ser indagada se tinha entendido.


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Entre dois choques


Estou como ela, a meio caminho de entrar em choque novamente e já com tanta saudade deste último ano e meio de choque cultural. Ela tem sorte, não tem que falar outra língua, mesmo variando a paisagem e a dieta permanece a mesma.

Dizia, porém, uma conhecidíssima gaivota em livro:

O livro de nossa vida influi no destino da comunidade inteira.


Aí sim, o choque cultural terá valido a pena, cada segundo dele. Vamos para o próximo.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Rui Veloso - Loucos de Lisboa



Porque eu me sinto mais um pouco daqui do que jamais me senti deste país. Porque todos nós um dia fomos ou seremos algo de louco e desvairado, algo de solitário e sem pontas por onde se pegar. Porque somos todos suscetíveis a entristecer, a envelhecer e a enlouquecer. E porque não precisamos nem devemos perder a ternura por quem já o fez e o fará um dia destes. Talvez o maior choque cultural seja o outro ser humano, desde sempre.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

De lá e de cá - Big brother? Ou o quê?

Acabo de receber de uma ex-aluna. É do programa de lá, mas serve perfeitamente aos de cá, como a Casa dos Segredos.


Televisão é concessão pública e, como tal, deveria ter respeito por todos; entretanto, não é isto que vemos.

VEJAM ABAIXO A COMPOSIÇÃO DE UM CANTOR DE CORDEL PARA O
PEDRO BIAL... O PAI DOS BIG BROTHERS

APLAUSOS PARA O NOSSO CORDELISTA ANTONIO BARRETO.


(Cordel é uma forma de expressão cultural escrita que nasce de uma tradição oral em que um texto em verso é ritmado e fala de uma questão a ser elogiada ou criticada.


O nome deve-se ao fato de que as pequenas folhas de papel colorido, impressas como xilogravura, ficam penduradas em uma corda fina para "usufruto" dos passantes. A Feira de São Cristovão, no Rio de Janeiro, tem um quiosque todo dedicado ao Cordel que é uma tradição secular do Nordeste brasileiro.)



BIG BROTHER BRASIL

*Antonio Barreto, *
* Cordelista natural de Santa Bárbara-BA,
residente em Salvador. *

*Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.*
**
*Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.*
**
*Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.*
**
*Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.*
**
*Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.*
**
*O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.*
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*Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.*
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*Um país como o Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação..*
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*Respeite, Pedro Bial
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dá muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.*
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*Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.*
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*Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.*
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*A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.*
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*Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.*
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*Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.*
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*Isso é um desserviço
Mal exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.*
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*É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.*
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*Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.*
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*A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.*
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*E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.*
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*E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.*
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*E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados. *
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*A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.*
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*Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.*
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*Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores? *
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*Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…*