quinta-feira, 24 de março de 2011

Cultura? Civilizados? Quem?

Estava lendo no Jornal do Brasil - excelente jornal que, por razões econômicas teve que se manter em formato online, apenas - o Carlos Eduardo Novaes. Talvez só quem tem mais de quarenta e viveu no Rio de Janeiro seja capaz de se lembrar e entender como esse jornalista ajudou a elaborar o pensamento crítico (e o humor ácido) de algumas gerações. Voltando à minha leitura, encontrei um texto que ilustra um olhar crítico e muito realista sobre a intevenção militar na Líbia. Vejam só:

Uma pergunta que pinga tal uma goteira na minha cabeça foi repetida por um jornalista do inglês Independent: Quem vai para o trono quando Kadafi cair? A confusão que se estabeleceu na Líbia desde o primeiro momento vem da ausência de uma oposição minimamente organizada. Os líbios deviam imaginar que Kadafi fosse eterno porque nesses 42 anos de tirania não cuidaram de desenvolver um plano B para depor o ditador. Nessas circunstancias quando o treinador americano tirar Kadafi de campo e olhar para o banco não encontrará ninguém para seu lugar. Não sei se as forças da Coalizão já pensaram a respeito, mas desde já proponho que botem um anuncio no melhor jornal da Líbia: “Procura-se – cidadão líbio para governar o país. Exigimos tempo integral, inglês fluente e capacidade para organizar eleições democráticas. Oferecemos apoio militar e financeiro do Ocidente. Enviar currículo com pretensões salariais para coalizão@ bombardeio.com. un. Não é necessário experiência em petróleo.

Agradeço ao Novaes, cuja postagem pode ser lida na íntegra aqui, por ter definido em palavras um mal estar que deve estar acometendo não só a mim, mas a muita gente comum e leiga como eu.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Choque do bom

Eu juro que não vou fazer comparações, pensem o que quiserem, mas eu fiquei chocada hoje cedo.

Toda preparada para ir ao ginásio - sim, na urbanisación tem ginásio, é tudo, né? - ponho meu telemóvel como walkman, fiozinho no ouvido e apanho o elevador. Surpresa, pára no 3, coisa rara. Entra um casal e um menino gordinho, de uns 9 anos, ainda sonado, as 8h30 da manhã.

O pai, ao ver o elevador com alguma ocupação - eu - exclama com um sorriso: "Hola! Buenas!" e apressa o resto da família para entrarem. Cumprimento a esposa e o menino que, pasmem, também cumprimenta, tadinho, meia pestana aberta.

A esposa não se contém, diz: "Eres del quinto, correcto?" Confirmo e ela continua, quase em coro com o marido: "Somos del tercero E, dos pisos abajo del tuyo. Bienvenida!"...

Bem, felizmente eu estava sozinha, o Victor era capaz de ter um ataque do coração, eu quase fiquei apoplética, nem sabia o que responder ante tanta amabilidade gratuita. Consegui, a custo, esboçar um: "Muchas gracias, muy amable" e saí na planta baja, ainda atônita e feliz.

domingo, 20 de março de 2011

Enhorabuena


A Olga, como sempre antenada, enviou-me algo que sai do óbvio que tem inundado as páginas todas por onde andamos. Que seja en buena hora, para os nosso amigos do sol nascente.

Além de bonitos, os cartazes podem ser úteis. Veja aqui.

sábado, 19 de março de 2011

Pérolas II

Espanhóis têm horários esotéricos de funcionamento de empresas em geral.

A) Chego às 10h da manhã, terça-feira, cheia de dor no estômago, farmácia em frente de casa. Vou até a porta de vidro, papel colado. Horário de abertura: 12h-19h. A dor não melhorou, mas eu passei a ser a criatura mais agradecida desse mundo por ter um hotel na minha rua com uma cafeteria onde servem um ótimo café con leche.

B) Acabo de deixar o marido no aeroporto, domingo, 12h30, decido ir ao shopping resolver coisas e almoçar. Procuro no gps o shopping mais próximo, marco e vou pra lá. O estacionamento onde o gps me deixa está fechado, dou a volta para encontrar outra entrada, pelo caminho, observo que as portas de pedestres estão estranhamente fechadas. Próxima entrada de carros: fechada com grades. Desisto e volto para casa. No elevador, o meu vizinho de porta, sorridente, pergunta como estamos nos adaptando, eu digo que tenho alguma dificuldade para entender a lógica de abertura das tiendas. Ele ri e diz, "não há lógica", eu conto o caso das portas fechadas, reacção: "os shoppings não abrem aos domingos, exceto no primeiro de cada mes e em festivos"... ainda preciso de um manual para entender exatamente o que eles querem dizer com festivos.

C) Sábado de tarde, eu podia jurar que tinha visto uma peluqueria perto de casa. Fui até lá, nada, fechada. Volto no conserje, que é o porteiro, e pergunto se há alguma por perto. Ele me olha como se eu fosse um alien. Es sabado hoy, las peluquerias no funcionan, al mejor, sólo hasta medio día. Además, aqui, las cosas funcionan lunes a viernes, y viernes hasta la una. A esta hora, eram 14h então, están todos en el coche.

Bem, difícil descrever a minha cara de parva, até porque eu não me via.

Por outro lado, eles parecem estar sempre injetados de disposição (será pelas tapas e pelo vinho?), pois nunca se mostram entediados ou sem vontade de falar com você como os portugueses. Há sempre dois beijinhos ao cumprimentar, tratam todo mundo por tu (o que já te inclui no âmbito familiar), sempre querem saber se você está mesmo se adaptando, reparam que cortou o cabelo e interrompem uma sessão de esteira para te explicar como funciona o ginásio.

Alguém consegue encontrar similaridades com os seus vizinhos lisboetas? Não? Normal, não há mesmo! Ok, antes que cassem o meu passaporte, refiro-me aos vizinhos, não tenho nenhuma lembrança agradável dos meus vizinhos em Lisboa, ainda assim, foi com um aperto no coração que eu deixei aquela cidade deliciosa. E as pessoas que me atendiam, na farmácia, no mercado, na florista, na clínica e no banco perto de casa, têm um lugar muito afável nas minhas lembranças afetivas da cidade.

Mas vamos à vida que hoje é sábado, tem a super lua na janela, e eu aqui nesta cidade sem mar e sem rio... não há tapas que consigam aplacar o efeito de uma coisa dessas.

O rio, o sol e os sentidos







Acho que dá para entender a razão de não haver compensação possível para a falta que isso faz.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Pérolas... ou diria perlas? I

Hoje eu não estou feliz, há muita coisa triste acontecendo, em variadas latitudes e ando destilando fúteis preocupações para não pensar muito no futuro. Assim, aturem estas pérolas fresquinhas, recém tiradas da concha (?) espanhola...

Espanhóis fazem imenso barulho, por tudo e por nada, a maior parte das vezes, por nada.

A)É assim, ouve-se um falatório na calçada, vai-se à janela, há um espanhol jovem, empurrando um carrinho de compras, gesticulando e falando, aparentemente dirigindo-se a alguém que está à frente dele e não podemos ver. Atrás dele, surgem uma mulher jovem e uma criança, também falando, desta vez para o homem jovem. Finalmente, abre-se a "câmara", vem um cãozinho vira-latas subindo a rua na diagonal e arrastando uma trela vermelha. Adivinhem com quem o homem falava em alto e bom som com coro da mulher e do filho... esta última, vem logo atrás e apanha a trela do animal sorrindo. O que ele dizia? Não faço idéia, mas gesticulava e articulava com muito entusiasmo.

B) No mercado, uma família cheia de dúvidas sobre onde encontrar algo... como eles falam muito e sempre alto, claro que eu prestei atenção, além de mim, também, um homem alto e forte que se dirige à senhora, mesmo sem ter sido interpelado, e indica com precisão onde ela pode encontrar o tal produto. Caramba, eu quase caí pro lado, era empregado do mercado. Em Portugal, nem quando a gente pergunta eles explicam... em geral não sabem.

C) Dois funcionários do mercado (ok, podem dizer, a minha actividade de socialização favorita são os mercados!.. nem sempre foi assim, acreditem!), o homem, que parece ser o supervisor, aos berros explicando enfaticamente a uma mulher o que deveria fazer. Acho que ele estava sendo enfático demais, ela responde algo como "de la mierda" também aos berros e sai resmungando ao ser indagada se tinha entendido.