Eu nem sabia que
havia isso em Madrid, mas só em Madrid, e em uma meia-dúzia de cidades do
ocidente, somos capazes de encontrar absolutamente todo tipo de bar,
restaurante, casa de show, o que você imaginar, ou o que conseguir imaginar.
Pois é, meu africano
favorito resolveu me surpreender mais uma vez. E planejou um jantar ao som de
ópera, detalhe, ópera ao vivo.
Bem, o local se
chama, convenientemente, Café de la Ópera. E tem tamanha clientela que é
preciso fazer reserva com um mês de antecedência. Eu só sabia que ia a um sítio
especial. E a coisa ficou tensa quando, às 19h30 toca o telefone e é a
recepcionista do trabalho do meu companheiro, a cara dele foi alternando
surpresa e raiva, sucessivamente, em muitas repetições. Ele abria a boca,
bufava, grunhia, suspirava, sussurrava, eu até saí de perto porque estava vendo
que a surpresa corria sério risco de não acontecer.
A seguir, cena 2, o
africano da hora, no sofá da sala, em um tom de voz muitas décimas acima do seu
habitual. Mas não estava gritando, "todavía no". Eu já estaria aos
berros há tempos, mas ele é um gentleman inglês. Gentlemans não
saem do sério antes de muito exercitarem seu fleugma.
Por fim, "we got a deal". Como
ele não largava o osso e até mencionou nosso aniversário de casamento, que
seria (e foi) festejado no tal lugar surpresa, o pobre gerente do local
deixou-o à espera e voltou dizendo que sim, que iriam arranjar as coisas e
podíamos ir às 21h30.
Passamos batidos pelo
lugar, pois, na frente, só tem um bar, o local é no "sótano", como
uma infinidade de outros restaurantes madrileños, ou seja, no subsolo. Ficamos
à espera diante de uma infinidade de fotos com cantores vestidos como para as
zarzuelas, operetas tradicionais espanholas. Havia um outro casal, talvez um
pouco mais adiantado em idade do que nós e, de fato, éramos apenas 3 casais,
nessa noite de 23 de julho.
Bem, a seguir, o meu
africano contou-me que eles tinham dito que estariam "cerrados" e por
isso iam cancelar a reserva. Victor esbravejou e conseguiu que recuassem, mas,
em nenhum momento, acreditou de verdade que eles estivessem a falar a sério.
Pelo visto, como não havia reservas suficientes, diante do prejuízo iminente,
resolveram cancelar as reservas existentes, só não contavam com um rafeiro
africano que não larga o osso.
Long story short: O outro casalinho à espera também estava festejando
aniversário de casamento e também três anos. Ao fim, tivemos ópera, opereta e
zarzuela q.b. Nos dedicaram uma romântica música espanhola e confraternizamos
com os outros dois casais, trocamos votos e os cantores e o pianista tiveram
direito a bejinhos e nós a autógrafos.
É verdade, o jantar
foi delicioso, com sobremesas idem e o serviço impecável. Recomendo o Café de
la Ópera, mas reservem muito antes, evitem o mês de julho e esqueçam agosto,
eles fecham, sabiamente.
Abaixo, imagens da
coisa. Além de tudo, a lua cheia não faltou ao encontro, como já tinha feito na
data origem deste aniversário, entre o Sado e o Tejo, no castelo encantado de
Palmela.
PS: Tenho 3 vídeos
gravados no local, mas não consigo carregá-los. Se alguém souber como, agradeço
a ajuda.