sexta-feira, 26 de julho de 2013

Al Café de la Ópera

 



Eu nem sabia que havia isso em Madrid, mas só em Madrid, e em uma meia-dúzia de cidades do ocidente, somos capazes de encontrar absolutamente todo tipo de bar, restaurante, casa de show, o que você imaginar, ou o que conseguir imaginar.

Pois é, meu africano favorito resolveu me surpreender mais uma vez. E planejou um jantar ao som de ópera, detalhe, ópera ao vivo.

Bem, o local se chama, convenientemente, Café de la Ópera. E tem tamanha clientela que é preciso fazer reserva com um mês de antecedência. Eu só sabia que ia a um sítio especial. E a coisa ficou tensa quando, às 19h30 toca o telefone e é a recepcionista do trabalho do meu companheiro, a cara dele foi alternando surpresa e raiva, sucessivamente, em muitas repetições. Ele abria a boca, bufava, grunhia, suspirava, sussurrava, eu até saí de perto porque estava vendo que a surpresa corria sério risco de não acontecer.

A seguir, cena 2, o africano da hora, no sofá da sala, em um tom de voz muitas décimas acima do seu habitual. Mas não estava gritando, "todavía no". Eu já estaria aos berros há tempos, mas ele é um gentleman inglês. Gentlemans não saem do sério antes de muito exercitarem seu fleugma.

Por fim, "we got a deal". Como ele não largava o osso e até mencionou nosso aniversário de casamento, que seria (e foi) festejado no tal lugar surpresa, o pobre gerente do local deixou-o à espera e voltou dizendo que sim, que iriam arranjar as coisas e podíamos ir às 21h30.

Passamos batidos pelo lugar, pois, na frente, só tem um bar, o local é no "sótano", como uma infinidade de outros restaurantes madrileños, ou seja, no subsolo. Ficamos à espera diante de uma infinidade de fotos com cantores vestidos como para as zarzuelas, operetas tradicionais espanholas. Havia um outro casal, talvez um pouco mais adiantado em idade do que nós e, de fato, éramos apenas 3 casais, nessa noite de 23 de julho. 

Bem, a seguir, o meu africano contou-me que eles tinham dito que estariam "cerrados" e por isso iam cancelar a reserva. Victor esbravejou e conseguiu que recuassem, mas, em nenhum momento, acreditou de verdade que eles estivessem a falar a sério. Pelo visto, como não havia reservas suficientes, diante do prejuízo iminente, resolveram cancelar as reservas existentes, só não contavam com um rafeiro africano que não larga o osso.

Long story short: O outro casalinho à espera também estava festejando aniversário de casamento e também três anos. Ao fim, tivemos ópera, opereta e zarzuela q.b. Nos dedicaram uma romântica música espanhola e confraternizamos com os outros dois casais, trocamos votos e os cantores e o pianista tiveram direito a bejinhos e nós a autógrafos.

É verdade, o jantar foi delicioso, com sobremesas idem e o serviço impecável. Recomendo o Café de la Ópera, mas reservem muito antes, evitem o mês de julho e esqueçam agosto, eles fecham, sabiamente.

Abaixo, imagens da coisa. Além de tudo, a lua cheia não faltou ao encontro, como já tinha feito na data origem deste aniversário, entre o Sado e o Tejo, no castelo encantado de Palmela.

PS: Tenho 3 vídeos gravados no local, mas não consigo carregá-los. Se alguém souber como, agradeço a ajuda.





8 comentários:

Lóri disse...

Aviso aos navegantes. Este é o rascunho. O blogger nao me deixa atualizar a postagem. Até breve, quando isso for possível. Por essas e outras que ando tao pouco assídua por aqui. Só quem tem muito tempo ou muita insônia aguenta essas idiossincrasias!!!

Joca disse...

Eh! Nada como um guerreiro africano para dar ma forcinha à reescrita da História! Ecos da crise. E os madrilenhos, tristemente descobrem que o glamour custa caro - ou talvez seja tempo de se redescobrir "outros valores" ou que a exorbitância dos preços precisa ser repensada. É o que diz meu velho mestre Edgar Morin no recente livro, A Via Para o Futuro da Humanidade!
mas graças à impetuosidade do guerreiro africano a defender sua Senhora do Castelo, dois outros casais felizes tiveram sua noite inesquecível!
O choque, no caso, nem é cultural: é de realidade! A nova "realidade" do mundo. É mesmo preciso buscarmos outras Vias. Que bom reencontrar Lóri e suas gostosas histórias!

Herdanta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Lóri disse...

Oi, Joca! re-benvindo! No caso, meu amigo, o problema é que em julho a cidade fica deserta, só turistas e gente que nao tira muitas férias anda por aqui. E, claro, como não é um sítio muito turístico, só os locais frquentam, e os locais, apesar da crise, tao todos na costa. Não sei muito bem como os madrileños fazem com a crise, mas o fato é que eu faço nataçao em uma piscina municipal, em um bairro bastante "proletário", como diriam quando nos éramos jovens, e só tem a mulher do açougueiro e uma outra que tiram férias em agosto que andam por aqui, o resto tá tudo em Alicante, Múrcia, Zamora, ou Cantábria. Já não se fazem mais crises como antigamente. Lembra da série "Os waltons"? passada durante o crash de 29 nos EUA? Boa noite John Boy! Pois é, nada disso, a crise agora diminui o tamnho das cañas, mas nao elimina o povo dos bares. Até porque, há que afogar as máguas de algum modo! :) Mas sim, é verade que, por e xemplo, os veranos de la Villa, série de shows de música patrocinados pela cidade foram encurtados e estão mais vazios que no ano passado. Mas nada obedece a uma aritmética muito lógica. Eu vivo aqui há 2 anos e meio e ainda não entendo bem o que se passa. Mas se vc me falar de Portugal, (primo pobre da Iberia) ai sim, haja crise e da grossa. Como sempre, torrada de pobre nunca cai com a manteiga pra cima. Já a dos ricos...

Lóri disse...

Vou procurar o livro do Morin. Ele é muito interessante e eu já tive a oportunidade de vê-lo falar ao vivo em duas ocasiões. Uma, lá na UERJ, ainda estudante de Letras Port-francês, foi uma experiência impactante e inesquecível. Ele parecia um colonizador europeu na África, de calça-casaco cor de cáqui, tipo aquela roupa de caçador dos desenhos, e sandálias havaianas... tuuudo! A outra vez, foi há uns anos, acho que em 2005, na Fundaçao Calouste Gulbenkian em Lisboa, falando sobre cultura digital e as novas formas de aprender. Sobre contextualizar o conhecimento e um monte de coisas interessantes. Vc sempre é um pedaço de cultura pra mim, seja ela popular, como o sertão, ou sofisticada, como o Morin. :) Beijos daqui!

Lóri disse...

Ai, mágoa é com O, é u óooo! Sorry!

Pitanga Doce disse...

Tá tudo muito bem mas a pergunta que não quer calar é: este africano da hora não tem um irmão mais velho????

Beijos Lóri. Quando o humor voltar a ser compatível comigo, te mando mail com 3400 caracteres.

Lóri disse...

Tu não me levas mesmo a sério, né Pit! Tem cuidado e não vás empolgar-te com o apelido e transformar-te em Pit... bulll,,, com essa coisa do humor. Já tás há tempo demasiado assim. já sabes que é filho único... Mas tem uns amigos jeitosos, lá da África, vai encarar????

Agora, deixa eu contar qtas palavras cabem em 3400 caracteres e já te respondo! :p

PS: ainda bem que saiste da toca....