sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Dúvidas


As imagens que tenho visto, esta semana, das forças rebeldes líbias a comemorar deixam-me com um sentimento estranho, de algo que não encaixa, de uma selvageria histérica e improdutiva.

Dúvida 1: Se são rebeldes, sem apoio da infraestrutura de estado, sem uniforme, ou outras marcas explícitas de organização, como estão sempre gastando munição caríssima apenas para comemorar?

Dúvida 2: Comemorar um país destruído, montes de civis mortos ou feridos para a vida, e uma incerteza total sobre o futuro do país, sobre a real autonomia que precisam construir?

Dúvida 3: Ao desaparecer o ditador , surge magicamente no seu lugar um país novo, moderno e uma população idem?

NB: Eu não acho que deveriam seguir com a velha ordem do déspota sumido. Mas vejo razões, sobretudo, para trabalharem e tentarem encontrar vias de estabelecer a reconstrução do país, e nenhum motivo para tanta comemoração, como se a partir de agora tudo fosse brotar do solo árido do deserto: trabalho, comida, estruturas, chefe de estado, país. Ou entao, qual a parte da história que eu não entendi?

Imagens, obviamente, retiradas da net através do Google.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Da realização dos desejos

Bem, eu bem queria voltar a ser aquela pesquisadora incansável, professora mais que dedicada, coordenadora atenta... bem, talvez só por uma semana, para me dedicar a todos os projetos que idealizei nas férias.

Bem, as férias, bem, as férias... estranho ser justamente nas férias em que me vem essa necessidade de ser a trabalhadora de antão... ou seria antanho... ou então, não seria... seja lá como for.

O fato é que Pemba é uma experiência existencial, assim como os Makua, os Makonde, o Georges e a Emmanuelle (abaixo, os dois dentro do Land Cruiser quarentão, principal meio de transporte),


a Susana, o El Pirata, o Saïd e todos os outros com nomes muçulmanos que nem com muito esforço eu consegui memorizar.

Mas ainda foram férias, com F maiúsculo. E, Mila e Olga, please, não soltem demais a imaginação nesse F... é F de férias, de fantástico, de fora de série, de fenomenal, de fiche oh pá, de feliz.

Os caranguejos também, é verdade. Aliás, inventamos a dança do siri moçambicano... eles devem ter respirado aliviados quando partimos, mas as tardes na beira mar nunca mais serão as mesmas, eles bem vão sentir saudade da nossa amistosa perseguição cheia de energia solar.

Aliás, Sonia vai adorar, a Flavinha vira e pergunta: Mas vocês ficavam o dia todo na praia, não faziam mais nada? Ao que eu respondo: é, na praia, até a hora do almoço, depois descansávamos na varanda,


junto com as formigas de um dos troncos que sustentava a casa, quando elas começavam a andar por cima de nós, voltávamos para a beira do mar, andar e ver se a maré estava vazando ou subindo, verifávamos se o mangal estava submerso ou à mostra, corríamos atrás dos caranguejos, sim, isso, uma das nossas atividades preferidas e, não, não havia lojas onde comprar nada, nem supermercado tem na cidade, só um mercado muito rústico, na porta das casas dos vendedores, além da cooperativa dos escultores de madeira.

A cara dela não dá para descrever, era como se eu estivesse falando do meu último passeio pelas crateras da lua, no rastro do Neil Armstrong.

Depois tinha o pôr de sol muito cedo, às 5h...

e, a seguir, a lua que ficou cheia cheia durante a semana e cor de laranja ao surgir no sábado. Jantar na ventania, que não parava de ventar, depois de 3 dias a gente já nem nota. E ir pra cama as 9h.

Sol na cara as 5h30, através do teto de macuti e da rede que cobria a cama na necessária e, às vezes, inglória, tarefa de afastar os insetos.

Abaixo, um dos caranguejos capturados num sequestro relâmpago e logo liberado por falta de caixas eletrônicos de onde obrigá-lo a sacar dinheiro. De toda forma, não acredito que fizéssemos muito com umas centenas de meticais, isso, se encontrássemos onde gastá-los.


A seguir, o Sebastian. Lembram do filme "A pequena sereia"? Pois é óbvio que eu não consegui pensar em outro nome para batizá-lo. Havia uma legião deles.



A lua e a dança do siri moçambicano vem na próxima. Já não consigo manter os olhos abertos.