domingo, 26 de julho de 2015

Raro, em espanhol, é o mesmo que estranho, em Português

Cinco coisas que podem soar estranhas quando você anda por Espanha

1. Eles pedem desculpas se o filho tem que tocar piano ou violino as 18h. Ainda se considera técnicamente hora da siesta. Mas acham normal o vizinho de cima bater portas, arrastar cadeiras e ficar meia hora aos berros com os filhos, entre ofensas e palavrões, às 23h.

2. Você pode encontrar opções vegetarianas nos menus de alguns restaurantes, ainda que muitas dessas opções vegetarianas incluam: atum, caranguejo e/ou jamón. Quando você pergunta ao garçon a razão de serem consideradas vegetarianas, ele olha para você com ar incrédulo e responde: Porque não tem carne, evidentemente!

3. É normal a sua amiga esperar a familia para almoçar com comida fresca. As 14h, chega a filha que sai da faculdade as 13h e tem que estar de volta as 16h; as 15h30, chega a tia chegada que não está comendo carne e sim pescado grelhado; e as 16h30, chega o marido faminto que adora a comida dela fresquinha. Quando você fala com ela no dia seguinte, ela diz que a vida dela não tem nenhum sentido pois passou a tarde do dia anterior preparando diferentes pratos de comida fresca.

4. Eles adoram café com leite. No inverno, pedem para por o leite frio sobre o café quente. No verão, põem cubos de gelo. O café puro (café solo) é indispensável também o ano inteiro. No verão, com gelo; no inverno, com leite.

5. Quando um colega de trabalho faz aniversario, todos esperam que ele leve, pelo menos, um bolo ou uns doces para todos. Ninguém leva nada para ele.

Importante assinalar que o adjetivo "estranhas" é aquí usado por uma brasileira, filha de portugueses que já viveu seguidamente no Rio de Janeiro, Lisboa e Porto e há 4 anos vive em Madrid e perambula em cidades grandes e pequenas de Espanha.



quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O exílio mais exílio

Estou chocada. Como se fosse de propósito com o nome do blog. Mas sinto-me de verdade, rara, como diriam os espanhóis. Não sei bem o que fiz do meu último ano. Este ano par que foi tão raro. Talvez eu deva me contentar com os ímpares, como o do meu nascimento, e resignar-me nos pares, quietinha no meu canto, que não têm se revelado lá grandes coisas. Mas, como a gente não deve recusar nem desdenhar das dádivas que a vida traz, um ano deve ser tão bom quanto outro e encerramos essas coisas de superstição ou lá o que seja.

Sigo no exílio mais exílio. Sim, o mais deve-se ao fato de que, embora Lisboa possa ser considerada exílio, pra mim quase não é. Digamos que sobretudo nos dias de chuva e vento. Nas horas mortas em que os portugueses insistem em ficar fechados em casa. Ou quando bloqueiam a ponte Vasco da Gama para alguma corrida de domingo.

Pois. Então o que é mais exílio para uma carioca é viver no planalto central, com neves na serra e uma secura na terra que se alastra para a alma e não sai de lá.

Não, meus amigos brasileiros. Este planalto central não fica no Hemisfério Sul. Não tem vizinhança com a Chapada dos Guimarães, nem essa terra vermelha na cidade de Brasília da qual a minha amiga Monica tanto gosta. Este Planalto Central está no centro da província de Castilla-La mancha. castillalamancha, diga rápido, 'nueve meses de invierno y tres meses de infierno'. Pronto, já papagaiei o vizinho mal-humorado do outro prédio onde morava.

Ah, sim, já estou no segundo endereço no meu exílio mais exílio e ainda não sei quando e se vou voltar. Bem, que volto, volto. Amparo-me em Gonçalves Dias, dentro do seu barco, atracado em São Luis do Maranhão. 'Não permita Deus que eu morra, sem que volte para lá/ Sem que ainda aviste as palmeiras onde canta o sabiá'. Isso se os políticos das diversas cores que infestam o congresso do Planalto Central não lograrem aniquilar de tal forma a Terra de Vera Cruz que eu desista de voltar de vez.

Bem, escrever tem um caráter claramente terapeutico para mim e, como não quero que a terapia seja unilateral e se alguém ainda andar por aí passeando em blogs ao ponto de chegar a ler-me, deixo por aqui o meu caráter, seja ele bom ou mau e vou tentar me agarrar nas nesgas de sol desta tarde para voltar a uma vida que me pareça conhecida.

Deixo aqui minha visão de um indescritível pôr de sol na Avenida O'Donnel, no exílio mais exílio.