terça-feira, 18 de maio de 2010

Todas as bolsinhas de crochet levam a outra

Estou em Sevilla, bar do hotel. A mesa + prox abriga um casal (?) Ingles. Mas o q m chama atencao, alem da brancura reluzente das pernas da moca e do rosado das bochechas do rapaz, eh uma bolsinha de crochet. Ela traz uma bolsinha de crichet purpura a tiracolo. E num passe de magica, não sei s ajudada pela musica do Dirty Dance tocando na radio, sou transportada para a minha pos-adolescencia, qdo se usava crochet em bolsinhas, gorrinhos redondo que não eram p tapar o frio, mas pra fazer charme, linha metalica, e em blusas de festa que a D amelia tecia amorosamente p as netas que ela não tinha oficialmente e que eramos nos.

Ao ver a bolsinha purpura, de crochet em linha metalica, meu primeiro pensamento foi, nossa, cabe tudo ali dentro, onde ela rapidamente enfiou um dos dois casacos q trazia, excesso incompreensivel p uma inglesa em Sevilla, onde ate mesmo eu, uma baleia dos mares do sul, uso Havaianas e vestido de malha. Mas aquele rapido gesto de precaucao dispensavel, desencadeou uma volta a minha tenra juventude, como se fosse a madeleine do Proust, com uma dose inexistente, eh verdade, da angustia francesa.

Na verdade, há algo a respeito do choque cultura que não está dito em lado nenhum. O choque, às vezes, é uma esbarradinha em nós mesmos. É o avesso da propaganda do choque. O choque, às vezes, somos nós.
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terça-feira, 6 de abril de 2010

No cabo do mundo, sem tormentas

Pois, já que ando em uma onda de retrato do real com todas as cores, resolvi postar o mail tal como saiu para os amigos. E houve até quem ligasse para dizer que... bem... não vou entrar numa de fishing for compliments... e podem me malahr se quiserem, que este tempo chocho de primavera enevoada já está me dando nos nervos... Ainda que eu não quisesse a lama toda que anda lá por onde não há choque cultural, só social, econômico, profissional.... and so on..



Estou no cabo do mundo dos navegadores do seculo 15, sem computador, escrevendo no telefone que, para o bem e para o mal, ainda m serve de ligacao com o resto da humanidade.
No domingo, visitamos mesmo os dois pontos descobertos pelos portugueses, onde
Bartolomeu Dias deixou um padrao, hj se chama Cape Point; e onde o Vasco da Gama deixou outro padrao, Cape of Good Hope.
Tudo faz parte de um enorme parque à beira mar, com vegetação peculiar e baboons. Estes ultimos sao uns macacos peludos, com enormes caninos, como tigres e q podem ser muito agressivos s alguém se mete no caminho deles.





Também da para entender pq isto foi chamado Cabo das Tormentas, tem um vento constante q pode ficar muito forte mesmo e entorta li-te-ral-men-te as arvores no porto da cidade. O mar tem um azul deslumbrante, como eu só vi no Caribe e se eu fosse rica, era para cá que eu vinha quando me aposentasse. :)


As pessoas sao super simpaticas e acolhedoras, sorriem na rua e cumprimentam todo mundo.
Ha uma mistura curiosa de simpatia e descontração carioca com um certo requinte britanico temperado com uma razoavel flexibilidade holandesa. Tudo junto dá um ambiente divertido, onde as criancas andam descalcas na rua - não, não sao pivetes pedindo uma coisinha "tia" -, as pessoas se vestem do mais casual ao razoavelmente chique (sem ser over) para ir ao teatro - eu fui de calça de crepe preta e havaianas douradas e me senti muito bem -, o sol brilha mas o vento te faz por casaquinho e echarpe no pescoco, mas com os dedos de fora e a passos lentos que aqui ninguem anda correndo com copo de isopor na mao, Nova Iorque está bem longe, graças a Deus.

Estou hospedada em uma Guest House que descobri na internet e que eh ainda mais linda e agradavel pessoalmente. Para os inocentes, GH eh o que os ingleses chamam d B&B (Bed and Breakfast), so que muito mais simpatico.

Maria e Johanes sao os donos da casa que reformaram e transformaram em negocio, mas não perderam a noção dos seus objetivos iniciais. Entao, a gente tem um quarto, lindo, todo creme e branco, c tv, secador, frigobar, ventilador e aquecimento, lençois de algodao, varias almofadas, cadeira de vime, varanda c mesinha de ferro e vista para uma nesga d mar, tapetes, muitos espelhos; no banheiro, pote de vidro com algodao e lixa de unhas, enormes frascos de champu e gel de banho, toalhas brancas e fofas trocadas diariamente por duas funcionarias mulatas com uma cor muito tipica e um sotaque idem. Alem disso, na mesa da tv, uma bandejinha com chaleira eletrica, cha, cafe soluvel, açucar, adocante e leite em po, e um pratinho em forma de bule para por o saquinho usado do cha.

Ao chegar, a Maria me perguntou o que eu queria cooked p o cafe da manha, alem do bufe de frutas, cereais, paes, queijos, geleias e iogurtes. A sala eh uma delicia, da para uma piscininha-tanque cheia de charme e de flores em volta, tudo parece a casa daquela amiga mais velha que tem muito jeito para decoração e usa o dinheiro da aposentadoria para ter uma casa deliciosa que todos querem copiar.

Nada cheira a hotel, tem boa energia e vasos coloridos de ceramica, alem de protetor solar, bonés e toalhas a disposição para os hospedes. E o preço eh de pensaozinha comparado c os hoteis da mesma regiao da cidade. So mesmo na Africa do Sul.
As gaivotas fazem uma sinfonia constante e o por de sol eh cheio de rosa e vermelho.



Ainda ha mt mais q contar, do restaurante etiope onde não ha talheres à desconhecida que me convidou para tomar café no shopping, sem falar no restaurante que é quase um parque, como uma aldeia africana, se chama Moyos e tem carne de veado, antilope e rabada, mas fica para a proxima, eu prometo que conto.


Fafa, por favor, reenvia para Raquel e tia Alba q eu não tenho aqui o email delas, mostra p seus pais e avos. Kerol, mostra p Solange e cia e da beijo neles, e reenvia p Carla e Linda e diz a Carla q nosso dia ta chegando. Marilinha, da beijo enorme nas outras duas pessoas queridas dessa casa. Lucia, s puder reenvia p Leila que eu não tenho email dela aqui.


A todos que puderem ler, meu carinho redobrado na distancia e a certeza de que a vida pode ser muito interessante quase sempre, ha que ter olhos e ouvidos disponiveis.

Beijos sulafricanos, com muito chili e açucar,
L
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quinta-feira, 11 de março de 2010

Djavan - Boa Noite (ao vivo)

Boa noite! Boa música pra terminar a semana.
Eita choque cultural de paixão esse do Djavan.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sergio Godinho- Com um Brilhozinho Nos Olhos

Ai vai o vídeo. É uma delícia essa música e o jeito como ele a interpreta. Prestem atenção na letra deliciosa. By the way, eu ainda não perdi o brilhosinho nos olhos! Mantenham o de vocês!



Sérgio Godinho : Com um brilhozinho nos olhos

Letra e música: Sérgio Godinho
In: 1981,"Canto da Boca"
Victor Almeida
Com um brilhozinho nos olhos
e a saia rodada
escancaraste a porta do bar
trazias o cabelo aos ombros
passeando de cá para lá
como as ondas do mar.
Conheço tão bem esses olhos
e nunca me enganam,
o que é que aconteceu, diz lá
é que hoje fiz um amigo
e coisa mais preciosa
no mundo não há.

Com um brilhozinho nos olhos
metemos o carro
muito à frente, muito à frente dos bois
ou seja, fizemos promessas
trocamos retratos
trocamos projectos os dois
trocamos de roupa, trocamos de corpo,
trocamos de beijos, tão bom, é tão bom
e com um brilhozinho nos olhos
tocamos guitarra
p'lo menos a julgar pelo som

E que é que foi que ele disse?
E que é que foi que ele disse?
Hoje soube-me a pouco. [x4]
passa aí mais um bocadinho
que estou quase a ficar louco
Hoje soube-me a tanto [x4]
portanto,
Hoje soube-me a pouco

Com um brilhozinho nos olhos
corremos os estores
pusemos a rádio no "on"
acendemos a já costumeira
velinha de igreja
pusemos no "off" o telefone
e olha, não dá p'ra contar
mas sei que tu sabes
daquilo que sabes que eu sei
e com um brilhozinho nos olhos
ficamos parados
depois do que não te contei

Com um brilhozinho nos olhos
dissemos, sei lá
o que nos passou pela tola [o que nos passou pelo goto]
do estilo és o "number one"
dou-te vinte valores
és um treze no totobola [és o seis do meu totoloto]
e às duas por três
bebemos um copo
fizemos o quatro e pintámos o sete
e com um brilhozinho nos olhos
ficamos imóveis
a dar uma de "tête a tête"

E que é que foi que ele disse?
...

E com um brilhozinho nos olhos
tentamos saber
para lá do que muito se amou
quem éramos nós
quem queríamos ser
e quais as esperanças
que a vida roubou
e olhei-o de longe
e mirei-o de perto
que quem não vê caras
não vê corações
com um brilhozinho nos olhos
guardei um amigo
que é coisa que vale milhões.

E que é que foi que ele disse?
...

Soube-me a pouco

... foi o que li no mail do Joca. Ele talvez não saiba, mas essa frase é de uma canção bastante conhecida do Sergio Godinho. Uma musiquinha deliciosa, chamada "Brilhosinho nos olhos", música dos meus encantamentos com esta terra e sua cultura. Há anos atrás. Depois da euforia, a ressaca.

Não, não acho que esteja exatamente na ressaca, essa já passou, acredito. Estou na fase da habituação, mas há dias. Dias como o da semana passada em que fui às Finanças. Sim, no plural. Equivalente ao Ministério da Fazenda. Aqui há muitas coisas no plural, mas a delicadeza é, algumas vezes, singular, ou inexistente.

Primeiro, fui recebida por uma senhora, quase uma sombra atrás de um biombo, a me perguntar ao que vinha, quando disse que era para os recibos verdes, disse que sim, que eu podia entrar, indicou-me onde apertar para que me saisse a senha que me abriria as portas do balcão de informações e, se eu tivesse sorte, da burocracia equivalente ao registro de autônomo.

Com a crise, uma parte significativa da população portuguesa trabalha a recibos verdes (outro plural). O que quer dizer que as Finança ganham seu imposto, a Segurança Social ganha a sua contribuição, o recebedor dos serviços ganha os serviços sem se responsabilizar perante um sistema leonino que desincentiva a geração de empregos pelos particulares pelo peso que significa ter um empregado, e o prestador de serviço ganha remuneração e o dever de pagar isso tudo.

Entrei no local, havia uma senhora atendendo um rapaz, os dois sentados, um de cada lado de um balcãozinho baixo. Havia uma outra senhora, mais jovem, no guichê que corrrespondia ao de atendimento do número da minha senha, e um senhor que ora conversava com uma, ora com a outra e não atendia ninguém. Fiquei vinte minutos ali, conversando com a amiga portuguesa que, casualmente, acompanhou-me. Nesse tempo, a senhora mais jovem desapareceu e o senhor também, restando apenas a outra senhora sentada a atender o rapaz.

Como nada acontecia no painel luminoso e eu comecei a imaginar que seria ignorada permanentemente, dirigi-me àquela alma cujo o corpo é mantido com os impostos que eu pretendo pagar e com os que toda a massa trabalhadora regularmente deposita ao fisco. A alma, porém, mora em um corpo controlado por uma mente que decididamente ignora esse fato da correlação entre o salário da dona e os impostos pagos pelos utentes daquele serviço que ela, a alma, deveria fornecer de boa vontade e com um mínimo de competência.

Quando eu tomei a palavra, a dona da alma, resistiu muito a responder, dizendo que estava tudo fechado, que nada estava funcionando e que havia apenas ali um PAP para alguns assuntos. Perante a minha insistência, ela disse que estava atendendo o rapaz, eu respondi que estava vendo, mas que como não havia recepção, eu queria apenas saber se tinha esperança de ser atendida, ela voltou a dizer que estava tudo fechado e que o PAP, etc, etc. Eu a interrompi e disse ao que vinha, ela respondeu que isso T-A-L-V-E-Z pudesse ser atendido, mas que eu tinha que esperar. Eu usei o meu melhor tom de moça fina, com um carregado e exageradamente suave sotaque de carioca, para responder que iria esperar e agradeci, virando as costas para me sentar.

Mais tarde, essa mesma alma me atendeu, bufando, e diante da minha indiferença pela sua ira, começou a dizer que eu tinha olhos e não via e ouvidos e não escutava pois tudo que eu tinha lhe perguntado estava afixado algures nos balcões. Eu persisti na minha indiferença, pois tenho decidido todos os dias que vou resistir ao meio quando ele for hostil, uma vez que tenho muitas experiências interessantes para contar. Ela, finalmente, vitoriosa, verificou que eu não tinha o NIB (número que é um misto de banco/agência e conta bancária) e mandou-me procurar um multibanco (caixa eletrônico) a uns 600 metros dali, para verificar o tal NIB. A minha amiga não se intimidou e disse, nós vamos e voltamos, isto não fica assim. Ao sair do local, descobri que bastava atravessa a rua para encontrar um caixa. Será que ela não sabia?

Voltei. Agora era o tal senhor colibri que passeava entre as flores que estava atendendo. Mas a outra alma mariposa, andava esvoaçando não muito longe. Ao ver o endereço no A4 do meu Número de Contribuinte, o senhor perguntou descaradamente: "Rua Ilha dos amores?", eu ainda não totalmente calejada, achei que ele tinha simplesmente, como a maior pare das pessoas, achado pitoresco e curioso o nome da rua. Ledo engano meu. Como a rua fica em um bairro de classe média alta, ele aparentemente achava que eu tinha posto o endereço mas não morava lá, pois a seguir perguntou "Conhece?" ao que eu respondi "Sim, é lá que eu moro, como pode imaginar". Claro, como brasileira, eu não poderia morar lá, deveria ser o endereço da patroa, e eu, mulher a dias, certamente estava morando de favor em algum albergue, ou quem sabe, fazia bar de alterne nas noites ociosas.

Quando eu respondi que morava lá, o senhor vira-se para a minha amiga e diz com deboche "Ela tem dinheiro". A seguir, e porque a vida é quase sempre irônica, entra um grupo que precisa de informação e interrompe o senhor que está me atendendo. Ele pede desculpas para responder-lhes, a mariposa acompanha a troca e contribui com comentários e eu olho para a cena sorrindo e lembrando da atitude tão diferente da mariposa quando eu fiz exatamente o mesmo que o grupo que, aliás, tinha muito mais assuntos a tratar do que a simples pergunta que eu tinha esboçado alguns minutos antes. Acho que eles entederam perfeitamente o recado irônico, mas duvido que tenham levado em conta ou se envergonhado pelo modo como eu tinha sido atendida, tão diferente do modo como então estavam atendendo aquelas pessoas que, como grande diferencial em relação a mim, tinham o sotaque e o tempo de residência no país.

O atendimento terminou bem e bastante rápido. Teria sido ainda mais rápido se o senhor não tivesse contado duas piadas de alentejano. Sim, eles têm os seus baianos, e acham a coisa mais natural do mundo fazer piadas discriminatórias, mas ai de quem fizer algo nesse sentido com eles. Ao sair, agradeci ao senhor. A mariposa rondava. Minha amiga aproveitou e deu uma espetadinha final. Levantou-se, agradeceu e insistiu: "Muito obrigada pela sua atenção e boa vontade" e olhou firmemente para a mariposa. Fim da cena.

Bem, não vou me estender, pois tenho malas para fazer. Na próxima, continuo e conto como um especialista em informática que eu só conheço da web se refere à comunidade de brasileiros em Lisboa e me faz ressentir ainda mais o meu caráter alienígena atual.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

First glance

Dei uma circulada nos sites sobre choque cultural. Melhor esquecer. Os textos - quando os há - falam sobre as obviedades do costume: carnaval do Rio vs. Ramadam; a rigidez dos anglo-saxões vs. as relações distendidas dos latinos; a preocupação com prazos, datas e horários vs. o enfoque de tempo mais alargado e flexível. Ou ainda, como ser louro, sardento e ter mais de 1m80 e passar despercebido em Machu Pichu.

Não, meus amigos, eu vou falar de choque cultural na passagem entre culturas ditas irmãs, ou mãe e filha ou seja lá como quiserem se referir às relações luso-brasileiras. Eu não tenho problemas com documentos, os meus são os de qualquer europeu ou europeia (com a diferença que eu ainda ponho acento no "e" do patronímico), não preciso de visto, não vim trabalhar como manicure ou trolha, não preciso servir as mesas, e ainda menos me atrai a mais velha profissão do mundo. Professo, em tese, ao menos, a mesma religião nacional e até aí há estranhamento. Tenho cor da pele, espessura do cabelo compatíveis com a média nacional, ainda que não seja tão pequena quanto um terço das mulheres que observo diariamente nas ruas e shoppings da cidade. E venho de um país onde a rigidez não é o forte do comportamento, mas a flexibilidade é de muitas outras naturezas.

Enfim, sou uma brasileira em Lisboa e lembro, com frequência, da musiquinha que o Sting tão bem interpreta: Oh, oh, I´m an alien, I´m a legal alien, I´m an English man in New York...
E este blog vai ser dedicado a todos os meus findings, todas as minhas surpresas, sem angústias, pelos menos, as profundas, apenas alguma irritação, um tanto de insatisfação e bloqueio ,e uma busca de integração sem demasiadas concessões. Eu insisto em dizer "alô!" cada vez que atendo o.... celular.


E a minha atitude é muitas vezes a do felino abaixo e, suponho, com semelhante sentimento em relação ao mundo circundante.